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SYNTHETIKA

TEXTO CURATORIAL

SYNTHETIKA

Diferentemente de Hegel, que chamou o conjunto de ideias de determinada época de “espírito do tempo” (Zeitgeist), poderíamos chamar nossa época de “Zeitsynthetik” (o tempo do sintético). No período clássico, a arte era inseparável da religião, cuja essência era a espiritualidade; na modernidade a espiritualidade foi substituída pelas ideologias das grandes narrativas (capitalismo e socialismo). As artes clássicas inventaram a poética e a estética: o belo e o sublime. A arte moderna inventou a vanguarda que se propunha ser revolucionária, seu motor era a dialética do novo sem o velho, e por outro lado os pós-modernistas misturaram tudo com tudo, inclusive o velho com o novo. Hoje vivemos na época das tecnologias sintéticas, a época das tecnologias disruptivas. Em que o novo da modernidade já não é mais suficiente e nem surpreendente. A sinteticidade é o novo vetor: algoritmos sintéticos; realidades virtuais sintéticas; inteligências sintéticas. O motor da arte sintética passa a ser: 1) a fusão entre o novo artístico e a inovação tecnológica e 2) a intercriatividade entre o artista e a criatividade artificial. Os engenheiros de prompts simulam estrategicamente personas para as IAs no intuito de sair da trivialidade e obter assim resultados mais criativos. As inteligências sintéticas não são mais apenas instrumentos, mas parceiras dos artistas, na construção de uma simbiose criativa e inovadora.

A arte e a cultura passam por um instante em que a criatividade deixa de ser só humana, ela se torna artificial; a sinteticidade prospecta assim uma pós-cultura, uma nova FORMA: a forma SYNTHETIKA.

Ricardo Barreto
Curador e cofundador do FILE
Festival Internacional de Linguagem Eletrônica